prosa pra pirar

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prosa de poeta engasga até profeta

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

InvenSão II

Popstar de última geração, Lé Zinho, lap top à mão, cinco minutos antes de começar o show tentava, a todo custo, baixar um mega sucesso cálido y caliente que ouvira num site latino. Não queria mais chorar sobre o bright entornado em turnês de fracasso. Tramava tocar no rádio. Clip na TV. Ninguém notaria a tramóia. Faria parecido, não igual. Chupada eletrônica com sotaque andino. Seria a glória. Rezou pra São Rod Stewart, redentor dos plagiantes, e pirateou a idéia. Piração na rede. Apelo informatizado. Maquiavelismo cibernético.

O guarda-costas, num nada de atenção, coçava as calças assobiando um breganejo goiano. O olhar carinhoso na direção do astro. Fã com o afã nos afazeres.

Eurico, o assistente, contratado para driblar o fracasso, após pouco pensar, proferiu:

- E!U!R!E!C!A!. Que tal a velha e boa discoteca?

- Bom cabrito não berra – declinou o ídolo sem índole.

O empresário, prisioneiro dos ponteiros, fraseou eufórico:

- A galera está gritando a gosto. Carece ouvir tua voz, ver o teu rosto. Vai: é a tua hora. O palco está posto.

Saiu da rede e entrou no palco. Um swing dantes nunca alçado. Metais em brasas. Percussões troando Áfricas. Lé salseando tudo que sabia. Entortando cândidas melodias. Bolerando sem Ravel. Pop tropicanalha. Trejeito porteño. Meio malafo caribeño. Vivendo intensamente o simulacro dos ventos. Velhos os novos tempos. Floriu formas e arrasou de cabo a rabo aquela noite de festa e fama. Foi fortemente ovacionado por violões ovations e por vozes várias. Um sucesso!

Fim de noite, nos braços do guarda-costas, Lé Zinho, ensandecido de vaidades e vodkas, - consciência fazendo peso -, jurava ter visto um brilho sinistro nos olhos de Lucho Gatica. Vingança? Revide? Justiça?

- Valei-me São Rod Stewart! – rezou contrito.

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