prosa pra pirar

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prosa de poeta engasga até profeta

domingo, 5 de fevereiro de 2012

InvenSão I (para paroaras e paraenses)

Mago amazônida, Lé Zinho vivia alvorado de alegorias líricas. Calhava, às vezes, amanhecer pra épico. Alegrias e alergias mitológicas o tomavam de assalto e o levavam à leitura. À loucura. Cismava horas a fio lendo lendas. Mirando mitos. Lé lia o mundo. Lia lindo.

Nascido a boto, aluava rumores e rubores ribeiros. Assuntava barrancos e bordéis. No mais, era dado a plenilúnios e solstícios. Engolia fogo fátuo. Curava paixão encravada com reza brava e, de lambuja, cozia poemas e panos pra manga. Ah – ia esquecendo -, bebia um chá, diz-que.

Manhã de agosto, gastava a morenice tirada das árvores – mulateiro ou rouxinho? – manhosando olhar no aceiro do horizonte. O raciocínio rabiscando réstias. A atenção periférica ativada. Num repente, soslaiou uma figura fugidia. Modos diáfanos. Uma sinestesia, quase. Linda! Firmou o foco. Reparou na lua do branco do olho. No bronze da nudez. Pirou! Encantou palavras e parlou:

- Aonde, jantão, tu pensas que vai, enjoadinha?
- Vou à fonte falar miolo de pote – disse a pequena.

Amaciou e emendou o mago:

- Pensas que me engana, Ana? Sei sussurros e suspiros ao teu desfile de garça. Fálicos e frouxos desfalecem. Tua tez, tua pose, teu pavoneio de prosa, sei com quem tens parte. Tua arte, sei da sorte.
- Sabes? – devolveu a dita.
- Sei. Por isso, aquelazinha, fica no meu verso, no meu vasto. Vadeia o que em mim é tucuxi.

Ela elidiu o lastro lustroso da lábia do mago e retrucou:

- Nem morta, mano! Do trocadilho do teu texto, do vírus do teu vernáculo e do oráculo do teu sexo, quero distância. Ficar no teu verso? Mas quando.

Lé Zinho, nortizando palavras de ordem woodstockianas, promessou porção mágica, sexo e carimbó no ouvido da felina.
Tonta e tantas, tripudiou sobre a excitação transfigurada do artífice. Foi à fonte.

- Pávula! – praguejou o pajem – tu me pagas!

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