A manhã molhada quase me deixa triste. Raios de sol em riste, não virão iluminá-la de cromos as ninfas ou as musas. Não virão, o azul lazuli do infinito e o branco indeciso das nuvens, atormentá-la de beleza. O vento frio, farejando as frestas da casa, anuncia a liquidez e a frialdade do dia. A manhã molhada quase me deixa triste. Não fosse esta memória futura saltitando lembranças presentes. Não fosse esta cena passada, aprisionada a certos lapsos e reminiscências do quando. A quase tristeza desta manhã cedo é seda tecida pelos dedos ágeis das águas. A chuva é o charme desta quase tristeza. Nenhuma lágrima logrou alagar os olhos. Ilhas que são, os olhos enxergam nadas lá fora. Exceto, talvez, a umidade da manhã, mais dentro que fora deste agora.
O silêncio da alvorada é
cortado, timidamente, por um ou outro pássaro matinal. O canto não tem o calor
de sempre, apenas a melodia se repete – tema tautológico, ad infinitum. Um sanhaço aqui, um bem-te-vi acolá, o tema se
desenvolve de silêncio em silêncio, como num concerto minimalista. O silêncio
soa por fora e por dentro da manhã molhada. Mesmo o poema que se escuta no dial
do cosmos é sinal de silêncio. O cio e o ócio na voz que tece o verso somam-se
ao silêncio celestial desta manhã, em que, quase triste, invento ventos nas
frestas.
A manhã molhada quase me
deixa triste. A insânia e a insônia alertaram a visão periférica para esta
quase tristeza desenhada na janela. O não-sol segue exposto no plúmbeo da
abóbada. Sei disso porque me segredaram as nuvens. Os galos, esquecidos da
lição cabralina, não tecem manhã nenhuma. Nem mesmo esta molhada e silenciosa.
É provável estejam quão triste encontro-me. Por isso prosa e não canto. Por
isso o mesmo espanto nos galos e em mim. A manhã molhada quase nos deixa tristes.
Mas a manhã segue molhada
como se feita de igapós e não de terras firmes. Feita de valas e não de vales.
Os últimos pingos desgastam-se rumo ao esgoto gótico desta cidade fágica,
indiferentes à manhã molhada que me deixa quase triste, como se acreditassem
ser chiste a tristeza que inventa ventos nas frestas desta memória futura. Vou
com eles por nada. Em tudo, entrudo.
Realmente precisava de um novo blog,
ResponderExcluirpara estes contos quase cronicas de um cotidiano
veloz dentro deste amanhecer repleto
de tantos acontecimento, sentimentos e cantos de pássaros.
É um outro blog de prosa,
mas os versos são os mesmos
quero dize outros
deixaram de ser aldravias
e se tornaram parágrafos.