Três
dias de rock pesado, depois de tudo um muito, a alma e corpo sujos de prazeres,
Lé Zinho fica sabendo, na página inicial do google, que é o 117º aniversário de
Pixinguinha: o bom e velho Pixinga. Resolve limpar sua alma com a música do
mestre e de seus contemporâneos. Separa os Noel Rosa, Cartola, Nelson Sargento,
K-Ximbinho, Aracy de Almeida, Donga e outros que vai lembrando enquanto uma
leve réstia de perceptibilidade ainda permite. O corpo pesado pensa em curar
sambando, mas o equilíbrio saiu junto com a lucidez e foram dar umas bandas por
aí.
Lé
separa os bolachões que mais ouve e, à lá Raul Seixas, coloca para rodar no seu pick-up garrard gradiente e
arregaça no volume. Vai à geladeira e abre uma caixinha de breja para
reiniciar os trabalhos. Passa a mão no biódromo e só encontra uma biata
arrependida. Faz o que pode. Quando volta à sala o lado A do Melhor do Pixinguinha havia acabado.
Resolve ouvir o Noel. “Palpite infeliz” e “A dama do cabaré” tocam uma após
a outra. Quase goza de tanto prazer e fruição. Lembra umas e outras
maluquetes. Umas fulanas do babado. A mente embotada, não se dá conta direito
das coisas que acontecem na vizinhança. Ouve um burburinho que pensa ser de
festa. Coloca o Donga e ouve algumas vezes a música “Pelo telefone”. Canta a
parte que mais gosta aos berros:
O
peru me disse
Se
o morcego visse
Não
fazer tolice
Que
eu então saísse
Dessa
esquisitice
De
disse-não-disse
O
burburinho aumenta e Lé resolve ir ver, da janela, do que se trata. Ao abri-la a brisa que entra traz consigo uma bala perdida que o acerta em
cheio. Enquanto seu corpo ensandecido cai em câmera lenta, Lé Zinho, ainda insiste em lembrar o refrão do samba. Vê no arrebol os olhos da mulher que nunca amou.
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